Os objectivos...

Quando fui convidado para coordenar o programa de música e artes do som de Coimbra 2003, os nosso obejectivos (claramente afirmados no projecto apresentado e posteriormente aceite) eram:


1. Criar um programa baseado nos mais elevados padrões artísticos.
2. Dar prioridade a iniciativas que incluissem organizações locais, que implicassem a elevação do nível das práticas musicais tradicionalmente instituidas, que beneficiassem, enfim, os eventos com o potencial para continuar depois de 2003.
3. Promover Coimbra, os seus músicos, os seus criadores, o seu património musical, os seus heróis musicais esquecidos, os seus agentes culurais, as suas empresas do sector.
4. Ajudar a desfazer os novelos em que encontrámos alguns processos relativos à música para que estes pudessem beneficiar da exposição proporcionada por Coimbra 2003.
5.Levar a música a locais “surdos”, incluindo escolas, ruas, lojas e outros locais públicos.
 
Objectivos assumidos, conhecidos e discutidos amplamente de todos os que participaram no evento.

 
O que fizemos…

Referir-me-ei aqui apenas à parte do programa de música que partiu das ideias constantes do documento programático original que apresentei em 2001 e outras iniciativas que vieram a ser negociadas, aprovadas e apoiadas já em 2002. Muitos outros eventos musicais na produção dos quais não estivémos directamente envolvidos, que nos foram “oferecidos”, sugeridos ou produzidos por entidades externas à CCNC-2003, foram excluidos desta lista.
 

• Concerto dedicado à comemoração dos 500 anos da morte de Pedro Nunes. Obras baseadas no pensamento de Pedro Nunes de Miguel Azguime, designadamente, “O Centro do Excêntrico do Centro do Mundo” com o Sing Circle de Londres. Concerto organizado em colaboração com a Associação Portuguesa de Matemática.
 

• Série de 5 concertos produzidos pela "Casa da Música" com o Remix Ensemble e Estúdio de Ópera, nomeadamente, Blood on the Floor, árias de óperas encenadas, música de Schoenberg, Webern e Schubert, o concerto Interail, etc. Estes concertos consttituíram a primeira "saída" do Remix para fora da Casa da Música.
 

• "Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra – Jazz ao Centro", 12 concertos mensais que incluiram nomes tão importantes como Joe McPhee, William Parker, Gerry Hemingway, Mujician, Dave Holland Big Band, etc. Calculamos que mais de 4300 espectadores terão passado por estes concertos.
 

• “Jazz Visita”, visitas do jazz a escolas secundárias de Coimbra. Esta série foi levada a cabo com a colaboração da DREC. Calculamos que cerca de 800 alunos terão assistido a estas sessões.
 

• Workshops de Jazz, série organizada pelo JACC- Jazz ao Centro Clube, entidade entretanto criada em Coimbra, com total apoio da Ccnc2003..

• Música de “fusão” dos grupos de Coimbra: uma única resposta a este desafio lançado aos grupos de Coimbra, a do Bell Chase Hotel com o Quinteto de Coimbra.
 

• Azembla’s Quarteto concerto onde foi executada ao vivo a música do filme “Esquece tudo o que te disse”.
 

• A Ópera do Falhado.
 

• Noite dos DJ’s.
 

• I Festival de Guitarra de Coimbra, 11 concertos mensais, incluindo um concerto final em que foi estreado o “Concerto para Guitarra Portuguesa e Orquestra” de Fernando Lapa, com Paulo Soares como solista. A obra foi encomendada ao compositor pelo FGC. O concerto teve ainda a participação do guitarrista e compositor norueguês Terje Rypdal, figura de enorme prestígio internacional, que executou em estreia portuguesa obras suas para guitarra eléctrica e orquestra. O concerto contou com a participação da Orquestra de Câmara de Coimbra. Calculamos que cerca de 4000 espectadores terão assistido aos concertos do I FGC.
 

• “Guitarra Portuguesa Visita”, visitas da guitarra portuguesa organizadas por Paulo Soares às escolas secundárias  e prisão de Coimbra. Esta série foi também levada a cabo com a colaboração da DREC. Calculamos que cerca de 600 alunos e detidos terão assistido a estas iniciativas.
 

• Publicação do CD “Guitarra Diversa” que inclui obras dispersas para guitarra portuguesa de autores contemporâneos, anteriormente não registadas e não publicadas e outras gravadas expressamente para este trabalho.

• "Homengem a Carlos Seixas - Música Sacra". Concertos na Igreja de Santa Clara e na Capela da Universidade cujo programa foi preenchido por obras do grande compositor do barroco português baseadas em trabalhos de musicologia recentes de autoria de João Pedro D’Alvarenga e Rui Vieira Nery.

• Publicação do CD Carlos Seixas-Música Sacra que inlcuiu as obras apresentadas no concerto de homenagem ao compositor.

• Masterclasses pelos solistas que participaram no I Festival de Guitarra de Coimbra.

• "Festival Internacional de Música de Coimbra", incluiu um programa muito rico, o mais ambicioso de sempre do Festival, que comemorou a sua décima edição.

• "Festival de Percussão, Coimbra 2003", programa constituido por uma selecção ampla de géneros de percussão, que incluiu exclusivamente os nomes mais significativos e prestigiados da percussão portuguesa, Pedro Carneiro, Drumming, Tim-Tim por Tim-Tum, Quiné e os Gaiteiros de Lisboa. Especial destaque para o Concerto Percussão no Feminino, concerto especial e único em que participaram os grupos Adufeiras de Monsanto, Netas di Bibinha Cabral e Tucanas, num total de 32 percussionistas. Uma lição sobre relações interculturais ao vivo e a cores, como afirmei na altura.

• "Monumentos Musicais", 15 concertos pela Orquestra de Câmara de Coimbra em monumentos de Coimbra.

• “Sons do Mundo na Filarmónica”, projecto levado a cabo com a Associação Sons da Lusofonia e três bandas filarmónicas do distrito de Coimbra. Decorreu de Fevereiro a Maio de 2003 e culminou num concerto que reuniu 120 músicos na Praça do Comércio. Um concerto adicional especialmente concebido para este evento, chamado “A Ilha dos Afectos” incluiu alguns dos formadores.

• “Coimbrinha Vibra!”, 1200 alunos de 32 escolas de todos os graus e géneros de ensino de Coimbra e os seus professores, com o apoio dos estagiários de música da ESEC participaram nesta mostra de sons e música, após um período de preparação que decorreu de Outubro de 2002 a Junho de 2003. O Coimbrinha Vibra! destinou-se a mostrar o trabalho feito pelas escolas que aderiram ao projecto Coimbra Vibra!.
 

• “Festival Música Viva”, festival de música electroacústica. Na comemoração do nono aniversário do único festival na alturra dedicado à música contemporânea, foi produzido o programa mais ambicioso de sempre, que incluiu compositores, agrupamentos e solistas de Itália, Canadá, Suiça, França, Japão, Estados Unidos e Portugal, entre outros.

• O Festival Música Viva incluiu também "visitas" de compositores às escolas a que assistiram cerca de 380 alunos.

• “Simpósio sobre Música e Ciência”, uma iniciativa que reuniu investigadores, musicólogos, compositores e músicos de todo o mundo e representantes de universidades prestigiadas como Cambridge, Stanford, Simon Fraser, Gent, Paris, entre outras, e incluiu a presença de nomes como Emanuel Nunes, John Chowning, Barry truax ou Trevor Wishart.

• “Coimbra Vibra!”, mais de 1200 músicos, 500 alunos (que participaram no Coimbrinha Vibra!), todas as autoridades oficiais da cidade, CMC, Juntas de Freguesia, Governo Civil e outras entidades públicas como a PSP, Bombeiros, EDP, etc, moradores e proprietários de imóveis  e lojas da parte velha de Coimbra participaram de forma directa ou indirecta. Um total estimado de 8000 pespectadores, vindos de todos os cantos do distrito, do país e do estrangeiro, assistiram a um evento de cerca de cinco horas, que culminou o trabalho de um ano com as muitas bandas, coros, escolas, grupos musicais diversos e a população em geral. Este projecto foi dirigido pelo compositor R. Murray Schafer, figura maior da música mundial, assistido por Carlos Guerreiro, estagiários de música da ESEC e uma equipa de produção alargada da CCNC-2003. O projecto teve um enorme impacto internacional, tendo sido objecto de uma reportagem de um dos maiores broadcasters do mundo (a alemã WDR), a primeira jamais emitida em formato surround.

• “Dia Mundial dos Músicos de Coimbra”, concerto comemorativo do Dia Mundial da Música de 2003, preenchido exclusivamente com músicos de Coimbra.
 

• “Homenagem aos compositores de Coimbra”, concerto cujo programa incluiu a estreia de uma obra de José Firmino, para além de obras de José Maurício, Manuel Faria e outros. Concerto que contou com a participação da Orquestra Filarmonia das Beiras dirigida por António Saiote.

• Homenagem a Carlos Paredes pelo Sexteto de Bernardo Moreira intitulada “Ao Paredes Confesso-Homenagem a Carlos Paredes”.

• “Conferências Ilustradas”, série de conferências sobre temas da investigaçãao musicológica levada a cabo em Coimbra, ilustradas com recitais, concertos e workshops sobre os temas “A Canção de Coimbra”, “A Divina Música- A música nos mosteiros de Coimbra”, “Os compositores de Coimbra na transição do século XX para o XXI”, “Tavares Lamecense”, “Manuel Faria e Mário Sousa Santos, compositores ligados a Coimbra”.
 

• Foi estabelecido também um protocolo e conduzido um programa com a ESEC para a cobertura jornalística e documental em video, dos eventos musicais de Coimbra 2003 pelos alunos estagiários do curso de comunicação que obteve o apoio da Sony Portugal.
 


Intermezzo…
 


Deixem-me revelar agora um pequeno segredo… Um verdadeiro escândalo! O programa acima descrito foi organizado, co-organizado, produzido ou co-produzido, financiado ou co-financiado por Coimbra 2003, sempre com o seu empenho directo e debaixo do seu controlo permanente. Uma pequena equipa tornou todo este programa possível. Contando com os magros recursos colocados à disposição deste grande evento, com exigências de nível profissional, mas dispondo de ferramentas amadoras, desadequadas. Ferramentas totalmente desajustadas, tendo em conta o tamanho da tarefa. Muito poucos entenderam isto ou estiveram à altura deste desafio.
 

As dificuldades que esta equipa experimentou foram indescritíveis e as condições de trabalho raiaram frequentemente o absurdo. Só a inexcedível dedicação e disponibilidade da equipa de trabalho da CCNC-2003 tornaram possível a concretização do programa de música e artes do som e, certamente, de toda a Coimbra 2003. Uma pequena equipa com uma inabalável boa vontade, uma inesgotável dedicação, uma notável capacidade de trabalho, permanentemente situada nos mais elevados patamares de exigência. Qualquer análise séria à actuação de Coimbra 2003 deverá ter isto em linha de conta.
 


Coda…

Durante o ano de 2003, Coimbra foi visitada por um grupo notável de personalidades do mundo da música. Durante o ano de 2003 a música e os músicos de Coimbra estiveram no centro de todas as atenções graças a Coimbra 2003. Durante este ano, milhares (não dúzias, milhares!) de novos e habituais espectadores dos eventos musicais da cidade e de fora dela, espectadores formais ou transformados pela força desta iniciativa que foi a CCNC-2003, puderam assistir a um programa de música luxuosamente recheado. Muitos destes protagonistas, espectadores, músicos, produtores, foram expostos pela primeira vez nas suas vidas a experiências musicais certamente difícieis de esquecer. Muitos outros vieram dos quatro cantos do país e mesmo do estrangeiro, atraidos pelas propostas da Capital. Coimbra foi colocada num plano destacado no mapa musical português. Todo este magnífico movimento deve ser objecto de profunda reflexão e tem de continuar.
 

Para além do que tradicionalmente decorre no domínio da actividade musical em Coimbra — que recebeu neste ano de 2003, sublinhe-se, um notável reforço —, novos eventos como o Jazz ao Centro, o Festival de Guitarra de Coimbra, o Festival Percussão-Coimbra 2003, o Festival Música Viva ou o Coimbra Vibra! vieram preencher outras expectativas, mostrar alternativas, provocar, divertir, unir, enfim, pela música. Com sucesso, como o prova a notável e generalizada receptividade. Que ultrapassou inclusivamente as fronteiras da cidade, como o atesta o facto de terem sido e continuarem a ser assinalados de forma entusiástica também na imprensa estrangeira. Nunca, creio ser lícito afirmá-lo, a música terá mexido tanto em Coimbra!
 
O programa de música da CCNC-2003 procurou insistentemente elevar (com diferentes graus de sucesso é certo e no quadro das severas limitações que referi...) os padrões e a qualidade das práticas musicais da cidade, desvendar ou chamar a atenção para o seu património musical, passado e presente, mostrar, afinal, que é possível manter uma actividade musical continuada, não elitista, mas sem quaisquer transigências, diversificada, dirigida aos diferentes agentes musicais e públicos da cidade e de fora dela, e pelo caminho procurou ainda sensibilizar os públicos do futuro. Aqui reside toda a razão da nossa acção. Espera-se agora que os diferentes agentes musicais de Coimbra, músicos, compositores, promotores, as organizações musicais tradicionais da cidade e as recém criadas e, também, aqueles que se auto-eclipsaram em 2003, mas que agora vão poder beneficiar das condições criadas, possam e queiram, sem transigências, prosseguir toda esta actividade. Uma tarefa que não se fará sem esforço, mas cujas condições básicas de viabilização estão defintivamente criadas.
 
Seja qual for o critério que se deseje utilizar para o analisar, o programa de música e artes do som da CCNC-2003 foi uma experiência de enorme significado, séria, nunca antes tentada em nenhuma parte do país, que se espera, que deixe marcas. A cidade pode estar orgulhosa do que foi feito e pode tirar o partido do nosso trabalho que quiser e puder. Vamos observar o futuro cheios de curiosidade...
 

Coimbra, Capital Nacional da Cultura não foi criada para resolver todos os problemas de toda a gente no domínio da cultura. Nesta cidade ou no resto do país. Nasceu, mais prosaicamente, para iniciar processos, sugerir vias, provocar novos cruzamentos e suscitar intercâmbios. Neste sentido e tendo, particularmente, em conta as enormes adversidades que todos tivemos de enfrentar (interessaria saber como elas foram sendo "introduzidas", o seu calendário e a sua natureza...) durante estes dois anos, Coimbra 2003 será sempre um inegável sucesso, por mais malabarismos analíticos que se pretenda introduzir nesta discussão. Por mim estou orgulhoso de ter participado neste evento e assino por baixo.
 
Estes são os factos. Na hora da despedida…

"Na Hora da Despedida...": A verdade escandalosa sobre dois anos de trabalho para Coimbra, Capital Nacional da Cultura 2003
 

RemixSmallfiltered

percFemfiltered

barry

jcanhao

PedroCarneiroMedium4filtered

emanuel

orquestraaltifalantesfiltered

corofinalfiltered

getimage

DSC00695filtered

terje

migueljmarc

WOK

SchaferTubas

zing

drumming

choupal

LauraAkinesis

hopy2

cabacas

WOK1

MurrayCarlos

belgais

chowning

Filarmonicas

CSeixasfiltered

Octaviosergiofiltered

hmgparedes

OQUESOM

DSC00430CRRCT

Gaiteiros

pauloSoares

chapeus

azguime

por Carlos Alberto Augusto

© Dezembro 2003

schaferfiltered

logocoimbra2003f
Voltar a CCNC2003